Este blog é dedicado aos meu amigos e a pessoas que tenham curiosidade de saber como é trabalhar em um cruzeiro.
Postarei aqui todas as minhas descobertas, desde a contratação, treinamentos, dificuldades e claro, diversão a bordo! Espero que curtam!


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

LEGEND OF THE SEAS - PRIMEIRO CONTRATO

Bem, faz tanto tempo que eu não escrevo que eu preciso resumir um pouco tudo o que aconteceu nesses últimos 5 meses.

Pois é, do Mariner eu fui transferido para o Legend of the Seas para trabalhar como International Host, o contrato foi sensacional. O Legend é o menor navio da Royal Caribbean com capacidade para 2000 passageiros e média de 700 tripulantes. Lá eu trabalhei como tradutor do Diretor de Cruseiro, Capitão e de todas as atividades a bordo. Trabalhei como um condenado, mas foi simplesmente única a minha estadia.

O LG (Legend) é conhecido como um dos navios mais amistosos da companhia, não tem como negar, lá, trabalhamos felizes, e todos somos amigos.

As pessoas se conhecem pelo nome e não há nenhum tipo de diferença entre tripulantes dentro do navio...

Os novatos aprendem com os mais velhos e assim passa-se a boa maneira de convivência a todos, assim mantém-se a grande família.

Essa era a minha equipe no LG. 

Só pra vocês terem uma noção do quadro, eu estava no Caribe e em uma semana fui transferido para a Ásia (itinerário do LG).

Saí do Caribe de bermuda e camiseta, porém fui transferido para um dos lugares mais frios do japão, Hokkaido.

direita para esquerda cima para baixo: Caroline, Jung, Kitty, Sama (DJ), Linda e eu

O frio foi de matar, não havia trazido roupa de frio, afinal não sou retardado de levar casaco para o Caribe, meu suposto primeiro contrato.

Cheguei por volta das 10 horas da noite numa "overnight" em Hokkaido, quem estava livre saiu para jantar ou balada... 

O navio me pareceu velho e vazio...

O meu supervisor me disse que o time era sensacional composto apenas de mulheres e um DJ, logo me veio o pensamento, FUDEU! 

MULHER+MULHER = CONFUSÃO

Estava completamente errado, a equipe era formada de 4 meninas asiáticas, que viviam uma pela outra e mais um DJ que parecia um fantasma, nunca o encontrava, só de madrugada.

Caroline era a mais descontente com o trabalho, acho que ela não curtia, tinha vergonha de falar no microfone, Jung era a coreana mais doida que eu já conheci, até então era a primeira coreana que havia conhecido, uma figura, ama dançar ritmos latinos e entende muito bem o chinês e o japonês, Kitty a mais experiente das 4 era a mais frágil de todas, se apertasse ela se quebrava todinha, heheheheh, sempre sorrindo foi a minha primeira guia no navio, Linda foi a minha paixão, ela foi a minha companheira para tudo, lavar roupas, bater o ponto (Krono), comprar CUP CAKE, enfim, tudo!!! DJ, Cara quieto porém fantasma, se você o encontrar, ótima conversa!

Além do meu time eu tinha uma companheira indispensável, Mikako (Mika-chan).
Uma japonesa que estava no navio fazendo o mesmo que eu. 
Ela que me ajudava nas palavras que eu não sabia em japonês.

- Eu morei no Japão dos 7 aos 14 anos, depois disso não havia falado nunca mais o idioma. Então meu japonês é de uma criança de 14 anos, muitas palavras que eu não costumava usar, como "IMIGRAÇÃO" e agora eu precisava falar, era a ela que eu recorria.

Mika-chan era encarregada pelas atividades e eu pelo palco e juntos fazíamos todos os dias o Legend Life, programa de televisão interno dedicado ao público japonês.

Nós éramos uma espécie de artistas do navio, já que éramos os únicos que falávamos o japonês. As pessoas queriam tirar fotos com a gente a qualquer custo.

Pra mim o Legend foi um contrato curto, que me fez conhecer países que jamais iria por conta própeia e me proporcionou encontros "legendários". 

Um navio que eu poderia chamar de casa, porque era assim que eu me sentia.

Com essa galera fui para a Coréia, Japão, China, Russia, Taiwan, entre outros. 
Tive a oportunidade de visitar a cidade em que eu vivi quando tinha 7 anos, rever meu primeiro professor do Japão, opa.... Essa história é interessante de ser contada... Lá vai:

Eu estava na minha penúltima semana de Legend conversando com uma passageira, ela me perguntou onde eu tinha vivido, e durante o papo, fiquei sabendo que ela era minha vizinha e que o filho dela havia estudado no mesmo colégio que eu...

Ela me perguntou se eu havia visto meus amigos, porém como eu não sabia que viria para o Japão, eu não havia trazido nenhum número telefônico dos meu colegas  (brasileiros). Dos japoneses eu não tinha, porque isso fazia pelo menos mais de 10 anos e os números haviam mudado.

Disse a ela que não, pois eu até tentei pesquisar pela internet, mas ler japonês não é o meu forte, por isso já havia desistido.

Durante a conversa eu citei o nome do meu professor algumas vezes. Nos despedimos e ela se foi... 

O próximo cruzeiro se inicia, último no Japão, uma garota da recepção me liga dizendo que uma passageira havia deixado um recado pra mim urgente, eu disse que iria buscar, mas acabei me esquecendo, a menina veio até a minha cabine pessoalmente e me entregou o envelope.

No envelope estava escrito: 
"Dear Flavio Maeda, this is the telephone number of your teacher Kuga Kouji"

Eu li e não acreditei, claro que era pegadinha, ela nunca iria achar, eu já havia pesquisado no google e ligado para todos os telefones que eu encontrava e nunca era ele.

Quando chegou a noite, vi aquele envelope na minha escrivaninha e resolvi ligar, uma pessoa atende o telefone, eu sabia que era ele... Ao dizer "Alô" ele me responde "Flávio, é você?"

E eu disse: :espere um pouco, como é que você sabe que sou eu, eu não falo com você há mais de 10 anos?", ele me responde, "sua voz não mudou, e eu estava esperando a sua ligação". 

Ele me explicou que a minha amiga passageira, havia entrado em contato com ele através da Secretaria de Ensino, e explicado pra ele que eu trabalhava em cruzeiro e que adoraria vê-lo, como ela não sabia como entrar em contato comigo, enviou o telefone dele para a Companhia que por sorte chegou em minhas mãos.

Pra mim só me restava uma chance de vê-lo, no último dia do último cruzeiro no Japão. Que eu estava escalado para trabalhar o dia todo. 
Conversei com toda a minha equipe e todos se desdobraram para que o encontro fosse possível, e foi.

Almoçamos, ele me trouxe fotos dos meus amigos do colégio em um pendrive. Foi simplesmente sensacional.

Esse foi o cara que me ensinou as primeiras palavras em japonês.

Um cara apaixonado pelo Brasil, samba e pela sua profissão.

Seu nome Kuga Kouji.

Não tem como dizer que esse contrato não foi o máximo...

Após a temporada japonesa chega o dia da minha despedida.


Esse foi meu último dia no Legend, saí de férias com o novo contrato, o destino seria Oasis of the Seas, o maior navio do mundo.

Deixei meus amigos com o coração na mão. Afinal, essas meninas sempre trabalham na Ásia e eu na Ásia sou uma negação, um zero à esquerda, porque não falo chinês.

A probabilidade de eu reencontrá-las seria quase que nula.

Porém depois de coltar das ferias ao Oasis, o diretor de Cruzeiro do Legend, Dan, me manda um e-mail me dizendo que talvez voltaria ao Legend. Foi um choque de emoções. Fiquei MUITO feliz por ter talvez a oportunidade de voltar àquele navio que um dia foi minha casa, mas por outro lado, com um pouquinho de receio de deixar o Oasis, navio que estava me adaptando com um time excepcional.

Enfim deixei acontecer... 

Resultado foi o melhor possível, mas que eu conto no próximo post... 

Hoje é dia  5 de outubro de 2012, estou no Hotel Marriott em Miami, acabo de voltar do Legend of the Seas - Segundo contrato, e posso afirmar que esse contrato de um mês que eu tive na Ásia foi a melhor coisa que aconteceu pra mim...

Amanhã volto ao Oasis, porém com o coração apertado por ter deixado pessoas maravilhosas do outro lado do mundo.

... continua

2 comentários:

Valeu!